uma álgebra selvagem - Víctor Rodríguez Núñez

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uma álgebra selvagem

Víctor Rodríguez Núñez

tradução: Prisca Agustoni e Edimilson de Almeida Pereira

“Víctor Rodríguez Núñez surge como um desses escritores notáveis que criaram uma poesia e um mundo entre o primeiro lar e a primeira cultura e os novos mundos onde depois se encontra”, diz Jerome Rothenberg sobre esse poeta que buscou outros lugares para além de sua ilha, mas sempre a levando consigo. “Quando vivia em Cuba era simplesmente um poeta cubano”, diz Víctor, “mas viver na Nicarágua, Colômbia e acima de tudo nos Estados Unidos, me deu uma noção mais profunda daquilo que sou [...] pode ser que não escreva sobre Cuba, mas escrevo sempre a partir de Cuba”, ou mais especificamente de sua vila, Cayama. Como Marco Polo, ele escreve: “algo vi do mundo/ e isso aprofunda minha dor/ nada me pertence”.

Mas além do mundo a ser visto, a poesia de Víctor também se detém nos caminhos da imaginação e da invenção. Outros autores, personagens históricos, lugares, cometas, amigos, a mãe, o pai, a avó figuram como ecos em seus poemas. São diversas vozes dentro de uma única, propondo uma poesia dialógica, que produz estranhamento e faz com que o leitor veja o mundo como nunca antes; que desfamiliariza o cotidiano, o óbvio, o possível. Uma escrita baseada no enjambement de conteúdo e forma, onde não só os versos se sobrepõem, mas também as estrofes, os poemas e os próprios livros do autor. Seus poemas – ora breves reflexões, ora séries de imagens, ora longas narrativas – se constroem a partir e através de temas que se cruzam e retornam insistentemente, equívoco a equívoco (“somente o erro nos une/ a poesia é o reino/ dos equivocados”), resultando em um sujeito poético fluido, que desrespeita as fronteiras e privilegia o movimento em detrimento da fixidez.

Em alguns casos, é o poema quem parece enunciar ou definir as suas próprias regras e condições: “deve fazer calor neste poema”. E a cada releitura percebemos que, em sua concepção, cada um desses poemas “é o único instante/ em que sabemos
que resistirão/ as ruínas do futuro”.

Nascido em Havana em 1955, o jornalista, crítico, tradutor, professor e poeta Víctor Rodríguez Núñez nos expõe neste uma álgebra selvagem mais de quatro décadas de seu amadurecimento poético, do aprendizado com as primeiras referências (como Gelman, que oferecia a solução ao problema de como se fazer uma poesia que fosse ao mesmo tempo lírica e coloquial, pessoal e social, experimental e comprometida) até uma crença que ele próprio, após décadas de releituras e experimentos, parece tomar como profissão de fé: “acredito na poesia porque é a única coisa que o capitalismo não pode converter em mercadoria, porque é um instrumento cardeal de resistência contra a desumanização dominante”.

Cesare Rodrigues

 

arte poética?


herdei uns olhos míopes
                                       um nariz bissexto
uns lábios que não posso juntar
um cabelo de camelo
além de um corpo de atleta aposentado

também o gênio ruim do meu pai
a dor de lado da minha mãe
a mancha suspeita de minha avó
a cólica nefrítica deles todos
e até as febres constantes de meu filho

razões que me obrigam
a ter uma má opinião sobre a beleza

 

drama de marco polo


algo vi do mundo
as tempestades de pó de manágua
a neve já nua
nos pinhais do caminho para smolyan
e como discutem as bandeiras na torre
da universidade de porto rico

algo vi do mundo
as pedras encantadas de palenque
a baía de mel
que se esqueceu do verão em ponta delgada
e aquela praça vermelha
pintada por kandinsky

algo vi do mundo
e isso aprofunda minha dor
                                            nada me pertence

 


SOBRE O AUTOR: 

Víctor Rodríguez Núñez (Havana, Cuba, 1955) é poeta, jornalista, crítico, tradutor e professor. Publicou dezessete livros de poesia, quase todos premiados e republicados, sendo os mais recentes desde un granero rojo (Prêmio Alfons el Magnànim, Hiperión, 2013), despegue (Prêmio Fundação Loewe, Visor, 2016), el cuaderno de la rata almizclera (Buenos Aires Poetry, 2017), enseguida [o la gota de sangre en el nivel] (RIL-Ærea, 2018) e la luna según masao vicente (Espacio Hudson, 2021). Antologias de seu trabalho apareceram em onze países de língua espanhola e em traduções para alemão, árabe, chinês, francês, hebraico, inglês, italiano, macedônio, sérvio, sueco e vietnamita. Durante a década de 1980, ele foi editor e editor-chefe da influente revista cultural cubana El Caimán Barbudo. Compilou três antologias que marcaram sua geração, além de La poesía del siglo XX en Cuba (Visor, 2011). Com Katherine M. Hedeen, traduziu poesia do inglês para o espanhol (Mark Strand, C. D. Wright, John Kinsella) e do espanhol para o inglês (Juan Gelman, Antonio Gamoneda, José Emilio Pacheco). Doutor em Literaturas Hispânicas pela Universidade do Texas em Austin, é professor dessa especialidade no Kenyon College, nos Estados Unidos. Para mais informações, veja: victorrodrigueznunez.com

 

SOBRE OS TRADUTORES:

Prisca Agustoni nasceu na Suíça italiana e, desde 2002, mora no Brasil, em Juiz de Fora (MG). É poeta, tradutora e professora de literaturas italiana e comparada na UFJF. Integra o conselho editorial das Edições Macondo e, na Suíça, a curadoria do festival literário internacional Chiasso Letteraria. Colabora com jornais e revistas literárias na Itália e no Brasil.
Escreve e se autotraduz em italiano, francês e português e faz desse lugar intersticial entre as línguas seu motor de criação e de pesquisa acadêmica.
Estreou na poesia em 2001 com Inventário de vozes / inventario di voci (ed. bilíngue, Mazza Edições), ao qual se seguiram vários títulos, nas três línguas, entre os quais A recusa (Lisboa, Pasárgada, 2009), le déni (Genebra, Samizdat, 2012), Un ciel provisoire (Genebra, Samizdat, 2015), casa dos ossos (Macondo, 2017, semifinalista Prêmio Oceanos), Animal extremo (Patuá, 2017), L’ora zero (Falloppio, Lietocolle, 2020), O mundo mutilado (Quelônio, 2020, Finalista Prêmio Jabuti), Lingua sommersa (Milão, Isola, 2021) e O gosto amargo dos metais (7letras, 2022, Prêmio Belo Horizonte de poesia).

Edimilson de Almeida Pereira nasceu em Juiz de Fora, em 1963. Poeta, ensaísta, ficcionista, autor de literatura infanto-juvenil e professor na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora. De sua obra ensaística, destacam-se, dentre outros, os livros Os tambores estão frios: herança cultural e sincretismo religioso no ritual de Candombe (Mazza, 2005, Prêmio Vivaldi Moreira da Academia Mineira de Letras, 2004); Entre Orfe(x)u e Exunouveau: análise de uma epistemologia de base afrodiaspórica na Literatura Brasileira (Azougue, 2017), A saliva da fala: notas sobre a poética banto-católica no Brasil (Azougue, 2017, Prêmio Sílvio  Romero  de  Folclore  e Cultura Popular/ FUNARTE, 2002).
Estreou na publicação de poesia em 1985, com o livro Dormundo (Edições d’lira, Juiz de Fora). Recebeu, dentre outras as distinções o Prêmio Nacional de Literatura UFMG, pelo livro Ô lapassi & outros ritmos de ouvido (1988). Em 2019, publicou a antologia que reúne parte de sua obra, Poesia+ (antologia 1985-2019) (Ed. 34). É autor ainda dos romances, todos de 2020, Um corpo à deriva (Macondo), O ausente (Relicário) e Front (Nós), este último vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura.

 

isbn: 9788593478239

Ano: 2023

Formato: 14x21

Número de páginas: 180

Bilíngue

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